Um dos maiores desafios das multinacionais quando chegaram ao Brasil foi lidar com a legislação trabalhista. Não importava o motivo da demissão, sempre havia uma brecha para processo. Aliás, um dos principais motivos na época era pelo fato de ser obrigatório cantar o “jingle” da empresa. Prática comum antes do início do trabalho, muitos alegavam constrangimento e exposição desnecessária. Atualmente, o desafio são os cuidados com o uso de imagens dos colaboradores nas redes.
Dancinhas, memes, piadas e brincadeiras estão em alta. Mais do que nunca as empresas estão entendendo que não basta estar presente nas redes sociais. É preciso acompanhar as trends do momento. E, para isso, vale tudo, ou quase tudo. Porém, quais os pontos negativos de colocar seu colaborador para dançar dentro do ambiente de trabalho?
Com certeza tudo isso gera muitos likes e interações. Então, o algoritmo melhora o posicionamento da página da empresa nas redes sociais. Isso se traduz em mais visibilidade e alcance. Esse é o caminho para gerar mais vendas e melhorar a presença da marca.
No entanto, o uso de imagens de colaboradores nas redes requer cuidados. Recentemente vi um vídeo onde muitos colaboradores dançavam o hit do momento no meio de um supermercado. Todos pareciam alegres e se divertindo, o que é ótimo. Porém, será que realmente estavam felizes, ou era apenas para manter seus empregos? Para não decepcionar o chefe?
Nesse sentido, existe colaborador que é mais tímido e reservado. Tem receio de se negar, o que pode ser bem ruim, já que não faz parte do perfil dele. Com isso, ficará desconfortável e desmotivado, o que será um problema ainda maior.
Aliás, esse é o primeiro ponto a ser analisado. Alguns colaboradores realmente gostam de participar, de estar presente nas redes. Identificar esses colaboradores é muito importante. Assim como entender que existe um processo que deve ser feito para garantir a segurança de ambos os lados.
O termo de uso de imagem é o primeiro passo. Você precisa, sim, de uma autorização legal para expor o colaborador nas redes sociais e/ou vincular sua imagem à empresa. Outro ponto é a frequência, ou seja, ele vai fazer isso com regularidade? Então, deve receber por isso, afinal, não pode haver desvio de função.
Todavia, no momento em que você se expõe na rede fica vulnerável a tudo. Comentários ofensivos, piadas, haters e até assédio. Será que o colaborador está preparado para isso? Será que a empresa está preparada para lidar com isso? A empresa consegue monitorar os comentários ofensivos e preservar o colaborador?
Todas essas perguntas precisam ser respondidas. Afinal, o bem-estar e a satisfação do colaborador devem vir em primeiro lugar. Acredite, a saúde mental da equipe também é responsabilidade da empresa.
Calma, existe sim o jeito certo de fazer as coisas, de aproveitar a “trend” e ganhar força nas redes sociais. Veja algumas dicas:
- Invista em influenciadores e micro influenciadores. Eles são preparados e entendem a dinâmica das redes sociais. Bem como trazem um público mais engajado, segmentado e regionalizado;
- Contrate uma pessoa ou equipe para a função de influencer da sua marca. Essa pessoa já vem para fazer isso com exclusividade e vai dedicar tempo e atenção às redes. Além disso, vai analisar o que vale ou não vale a pena fazer;
- Use seu time com sabedoria, ou seja, deixe o colaborador à vontade para escolher participar ou não. Importante: cuide sempre da parte legal do processo;
- Você não precisa acompanhar todas as trends do momento. Isto é, quando aquela dancinha não combina com seu negócio ou público-alvo, deixe passar sem problema;
- É possível crescer, ter engajamento com um conteúdo mais tradicional. Por outro lado, é preciso ter constância e relacionamento. Em outras palavras, nem tudo se resume a dançar e fazer piada para seu cliente.
As redes sociais são uma ótima ferramenta se utilizadas com conhecimento e estratégia. Contudo, não faça nada sem a orientação das suas equipes de marketing e jurídico.
Michel Jasper – Especialista em Varejo, CEO Web Jasper, LinkedIn Top Voice e conselheiro do Conselho do Varejo – CDV da Associação Comercial de São Paulo.