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Roberto Ordine faz um balanço de seu primeiro ano à frente da ACSP

A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) completou 129 anos no dia 7/12, alinhada com os ideais da livre iniciativa e comprometida em crescer à frente de seu tempo.

Essa é uma missão liderada atualmente pelo advogado Roberto Mateus Ordine, eleito presidente da Associação em março deste ano para o triênio 2023/2026. Sob sua tutela, a entidade se tornou protagonista de iniciativas importantes, como a recuperação do Centro Histórico da capital paulista e a revisão do Plano Diretor e da Lei de Zoneamento da cidade. 

Também está empenhada em modernizar seus serviços e produtos voltados principalmente aos micro e pequenos empresários, classe que tem a ACSP como sua legítima representante. 

Ao chegar ao fim do seu primeiro ano de gestão, Ordine conta em entrevista ao Diário do Comércio como tem conduzido a entidade se mantendo fiel aos objetivos traçados por seus fundadores, de unir a classe empresarial e lutar pelo desenvolvimento econômico e social do país. Acompanhe a entrevista a seguir:

DC – Poderia fazer um balanço de seu primeiro ano à frente da maior associação comercial do Brasil?

Ordine – Em primeiro lugar, devo dizer que é uma honra e muita responsabilidade presidir uma entidade desse porte. Tenho buscado me inspirar na história e nos aprendizados dos meus antecessores, e essa é uma linha que em primeiro lugar defende a livre iniciativa, que é a nossa grande bandeira. Neste sentido, temos outro pilar importante, que é a defesa dos interesses da pequena e média empresa, porque em uma cidade, um estado e em um país como o nosso, em que, infelizmente, a burocracia exige muita atenção dos empresários, a ACSP tem que dar um norte para eles. 

Ao mesmo tempo, me sinto com o pé no futuro, pois nossa preocupação é também a de prever problemas e pensar em serviços que os antecipem e possam ajudar os empreendedores. Isso porque, paralelamente às atividades de cada setor, existe uma série de obrigações fiscais e contábeis que exigem muito do empresário, e nós precisamos ajudá-los a resolver essa burocracia.

O senhor passou a se reunir com frequência com os funcionários para um bate-papo e compartilhar assuntos sobre a casa. Qual é a importância dessa aproximação?

Criar um clima agregador. Nós vivemos em um mundo muito individualista. Um mundo onde, infelizmente, a solidariedade não tem o papel que deveria ter. Portanto, temos que criar esse ambiente dentro da empresa, que é o lugar onde passamos o maior tempo da nossa vida. 

Precisamos de entrosamento, e que não haja distância entre o dirigente, o gestor e o colaborador. Sem demagogia, todas as funções têm a sua importância. Temos muitas necessidades a serem atendidas e isso não funciona bem se trabalharmos de forma isolada. É preciso intensidade e nossa aproximação precisa ser constante. As pessoas precisam se ver de forma fraterna. 

A ACSP chega ao final deste ano com a fachada revitalizada, iniciativa alinhada à proposta de tornar o Centro  de SP mais atrativo. Qual é a importância disso para o Comércio e Serviços?

Nós iniciamos um trabalho junto com a Prefeitura para ajudar na revitalização da região central. Por isso, nada mais justo do que nós mesmos sermos o exemplo e mostrarmos que somos parte desse movimento. 

Nos sentimos na obrigação de ter um prédio à altura do Centro da cidade. Nós temos aqui os melhores exemplares arquitetônicos do que significa, de fato, a história de São Paulo. E toda essa beleza é de um período em que essa região tinha vida porque era o berço do comércio, onde todos buscavam o que queriam e precisavam. É em cima dessa história que trabalhamos, com o objetivo de recuperar esse propósito.

Dois assuntos dominaram as discussões sobre o comércio brasileiro em 2023: a competição com os marketplaces internacionais, especialmente os da China, e uma possível mudança no parcelamento sem juros. Como a ACSP lidou com esses temas?

Falando sobre o crédito, é importante lembrar que a loja física é uma tradição desde os tempos das feiras, do período bíblico. E da mesma maneira, o parcelamento é uma figura histórica no relacionamento entre vendedor e comprador – passamos pela época das cadernetas, dos carnês. Portanto, não há dúvidas de que a questão do parcelamento deve ser restrita ao comerciante. A decisão é deles. Não vejo como, nem porquê haver o envolvimento externo de autoridades. Isso tem que ficar claro, trata-se de uma atividade privada.

Agora, falando sobre alguns marketplaces, ocorre que o empresário brasileiro tem enfrentado uma crescente e predatória concorrência de empresas chinesas (como a Shopee, o Aliexpress a Shein), que operam no país sem ter que seguir as mesmas regras e regulamentações que os varejistas locais. A falta de impostos e tributos sobre esses produtos que entram no Brasil, inevitavelmente, afeta nosso comércio local. Essa brecha confunde o sistema, portanto, não considero válido, nem justo e, por isso, acredito que não deva prosperar.

Falando em impostos, como o senhor vê a proposta de reforma tributária e as consequências de sua eventual aprovação? 

Vamos intervir com todo o nosso esforço para que a reforma não seja aprovada neste ano da forma como está. O que nós precisaríamos ter é uma redução da carga tributária. E isso não vai ocorrer, tampouco a simplificação, pelo menos não nos primeiros dez anos porque o empresário vai ter de conviver com dois sistemas ao mesmo tempo. Portanto, terá seu custo duplicado. Falar em simplificação com essa proposta não faz sentido. 

Além disso, há uma série de exceções que transformam a alíquota de imposto num monstro que nós não gostaríamos de ver. A proposta atual em nada se parece com as previsões iniciais. Já se fala em uma alíquota de 27,5% ou até mais. Novos impostos deverão ser atrelados à reforma e, assim, aumenta-se ainda mais a carga tributária. Me parece que o melhor, nesse momento, é que o assunto continue sendo debatido.

A ACSP participa ativamente da vida política, econômica e social do país, e é também muito atenta às questões municipais e estaduais. O que mais demandou a atenção da entidade neste ano de 2023? 

Certamente as revisões do Plano Diretor Estratégico (PDE) e agora a Lei de Zoneamento. E dentro deste tema, nos interessa ainda mais todo o olhar dessa legislação para o Centro Histórico. Queremos entregar a quem vive, trabalha, visita e turista pela região o que ela realmente pode oferecer. E isso envolve desde a recuperação de nossos imóveis tombados até questões de segurança, limpeza e iluminação. Estamos comprometidos com a revitalização do Centro e vamos ajudar a Prefeitura nessa missão.

A ACSP é um patrimônio da população, dos empresários, comerciantes. Quais são os planos para deixá-la mais próxima desse público em 2024?

Somos uma entidade centenária, mas investimos na modernização constante dos nossos serviços e na forma como nos apresentamos. Nossa expectativa é que possamos atender aos nossos associados cada vez melhor, criando novos serviços e dando apoio, mas sempre respeitando a tradição desta casa, que é a defesa da livre iniciativa e da comunidade como um todo. 

No fim, o que nós queremos é uma cidade melhor, que proporcione ao cidadão uma qualidade de vida digna e, sobretudo, um comércio dinâmico com segurança jurídica para que os empreendedores tenham bons resultados.

No próximo ano teremos as eleições municipais. Como o senhor tem visto essa polarização na política?

Como sempre dizemos, a ACSP não tem partido, ela tem lado. É o lado da defesa do empreendedor. Então, todos os candidatos que se ajustarem a essa visão terão o nosso apoio. Por razões óbvias, não temos nenhuma preferência. Mas certamente teremos maior proximidade com aqueles candidatos que defenderem as bandeiras que nós também defendemos. 

Esperamos, em primeiro lugar, uma eleição sadia em que a cidade de São Paulo saia ganhando. Como já é tradição, nossa entidade irá receber todos os candidatos, dando a mesma oportunidade de participar de nosso ciclo de palestras e debates. Esperamos que a cidade continue prosperando e, portanto, estaremos em alerta contra aqueles que dificultarem a vida do empreendedor.

Como o senhor enxerga a ACSP em dezembro de 2025, quando estaremos mais próximos do fim da sua gestão (março de 2026). Quais marcas pretende deixar?

Minha gestão dá continuidade a um plano de trabalho, que é uma estratégia de cinco anos, e que começará a se concretizar nesses três anos. Portanto, em primeiro lugar, vamos materializar o que planejamos. Além disso, vamos deixar ao nosso sucessor as melhores condições para que ele dê continuidade a esse programa, que é o da liberdade econômico-financeira da entidade.

Imagem: Dani Ortiz