Não dá para negar que, nos últimos anos, os marketplaces ganharam popularidade e se tornaram uma opção cada vez mais comum para as compras online. Esses sites, que reúnem produtos de várias marcas em um só lugar, facilitaram a vida de empresas que ainda não estavam no mundo digital, como os restaurantes. Na visão do consumidor de hoje, ter poucos aplicativos que consigam resolver tudo vale mais a pena do que ter um aplicativo para cada loja que precise comprar.
É fato que antes da pandemia os marketplaces eram vistos como uma chance incrível para as empresas aumentarem sua presença no digital e permitirem que pequenos empreendedores também vendessem por meio de suas marcas. Ainda buscando algo similar à onipresença dos super aplicativos, que na época já faziam sucesso na China, esse modelo de negócio, que seria um primeiro passo para a criação de um ecossistema de marca, possibilitava um negócio escalável, sem a necessidade de aumentar a logística ou estoque.
A pandemia intensificou essa tendência e levou muitas empresas a recorrerem aos marketplaces para manter suas vendas. Com a loja fechada, e pouco tempo e recurso para entrar no digital, entrar via marketplaces já estabelecidos parecia ser uma boa estratégia. No entanto, a crescente dependência dessas plataformas vem criando cada vez mais riscos para o varejo brasileiro.
Hoje em dia, os marketplaces têm uma grande representatividade no mercado brasileiro. Em alguns setores, até 80% das vendas ocorrem através desses canais, o que dificulta a competição com sua presença já consolidada. Atrair consumidores para um site ou aplicativo próprio é um dos maiores desafios enfrentados pelas marcas, que precisam investir bastante em marketing digital para se destacarem. Se montar um site ou e-commerce hoje pode ter um custo inicialmente baixo, ou até mesmo gratuito, atrair consumidores para um local distinto da maioria tem um custo cada vez mais alto. O CAC (Custo de Aquisição de Clientes) vem se tornando cada vez mais caro.
E se o cenário por si só já não fosse desafiador o suficiente, a competição com marketplaces estrangeiros, como AliExpress, Shein e Shoppee, também é complicada. Esses sites oferecem produtos mais baratos e sem impostos, levando uma vantagem injusta sobre os varejistas brasileiros. Se para o consumidor comprar barato parece uma grande vantagem, no médio prazo esse cenário pode prejudicar a indústria e o varejo nacional, desestimulando os negócios ou até mesmo a produção local.
E num mundo onde práticas de transparência tornam o teto de vidro das empresas cada vez mais frágil, um outro aspecto a se preocupar é a relação entre os marketplaces e as marcas comercializadas. Como os marketplaces atuam como intermediários, em muitos casos as marcas não têm controle total sobre a experiência do cliente ou sobre quem é o seller ou o vendedor. Isso pode resultar em problemas aos consumidores finais como falsificações, falta de controle de qualidade e atendimento insatisfatório ao cliente, prejudicando a reputação das marcas.
Diante desses desafios, as empresas precisam ser estratégicas em relação ao seu posicionamento nos marketplaces. É importante estar presente nesses canais, mas também investir em uma plataforma própria de vendas online, a fim de estabelecer um relacionamento direto com os clientes e controlar a experiência do consumidor. Embora seja um desafio, isso é crucial para garantir a sobrevivência e competitividade das marcas no mercado de varejo brasileiro.
Um grande abraço e boas vendas!
IMAGEM: Pixabay
Caio Camargo – Especialista em varejo e tecnologia, LinkedIn Creator, escritor, colunista, palestrante e membro do Conselho do Varejo da Associação Comercial de São Paulo – ACSP.