A discussão sobre governança no varejo nunca esteve tão em alta como nos últimos tempos. Afinal, alguns dos princípios básicos da Governança Corporativa, ou melhor, a falta deles, como transparência e prestação de contas (accountability), entre outros, estão causando muito barulho no mercado. Cumprindo seu papel de agente facilitador e incentivador de boas práticas para os varejistas, em especial os pequenos e médios, o Conselho do Varejo da Associação Comercial de São Paulo – ACSP, promoveu uma rica conversa com o consultor Otávio Moraes.
O encontro online foi mediado por Roseli Garcia, vice-presidente da ACSP e coordenadora do seu conselho do varejo, o CDV. Aberto ao público, contou também com a participação de conselheiros e conselheiras que compartilharam suas experiências na área. Ao final, um consenso: “Não importa o tamanho, governança é fundamental para todo tipo de negócio”.
Afinal, o que é Governança Corporativa?
Resumidamente, é um conjunto de regras e boas práticas que orientam as decisões e auxiliam na transparência das ações de uma empresa. Ou seja, um sistema que direciona e monitora as relações que envolvem as mais diversas partes interessadas, como sócios, conselhos de administração, órgãos de fiscalização, entre outros.
Princípios básicos
São eles que conduzem a empresa a alcançar os objetivos para tonar seus negócios bem sucedidos.
Transparência – Disponibilizar de forma clara todos os dados e informações que podem ser de interesse de investidores, clientes, fornecedores e autoridades. Uma comunicação que vai além das obrigatórias por lei, como os balancetes.
Equidade – Não deve haver distinção entre sócios e demais partes interessadas. Ou seja, informações sem benefícios ou privilégios, tratamento justo e isonômico a todos.
Prestação de contas (accountability) – Prestação de contas de modo claro, conciso e compreensível, por parte dos agentes de governança, que devem torná-las públicas e dentro de prazo estipulado.
Responsabilidade corporativa – Respeito pelo ambiente, colaboradores e comunidade nos quais a empresa está inserida, reduzindo as externalidades negativas de suas operações.
Governança no varejo: primeiros passos
De acordo com Otávio Moraes, que também é CEO da The Wine School Brasil, o alicerce, a base, da governança corporativa é a cultura organizacional. Ou seja, um conjunto de crenças e valores que devem permear, ser reconhecidos e vivenciados por toda a organização, em seu mais diversos níveis hierárquicos. “Quanto mais sólido esse alicerce, mais bem sucedida será a governança corporativa.”
Ainda segundo Moraes, o grande desafio do varejo é formar uma cultura para a governança. “Não há um gabarito padrão de governança de cultura que possa ser aplicado em todos os tipos de organização. É preciso entender a história que formou cada empresa”, analisa. Além disso, “todos precisam comprar a ideia e internalizar os valores e crenças, do topo à base”.
Portanto, o verdadeiro interesse na implementação da governança corporativa não pode ser apenas “para inglês ver”, para cumprir normas de mercado. “A governança deve fazer parte do dia a dia do varejo de forma prática e alinhada com os valores da empresa.” Ou seja, não dá para ser transparente apenas quando convém.
Para Roseli Garcia, a comunicação é outro desafio, “A disseminação dos valores dentro da organização e a unicidade do discurso é essencial. Todos precisam estar na mesma página, ter o mesmo entendimento para evitar distorções”, afirma.
Concluindo, os últimos acontecimentos envolvendo grandes varejistas trouxeram à tona o quanto a governança corporativa é essencial para a longevidade dos negócios. Seja qual for o tamanho, e considerando que o cliente é parte interessada também, a condução ética e transparente dos negócios é o fiel da balança.
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