Muitas pessoas ainda associam o desperdício apenas à perda de produtos. Isto é, vencidos ou danificados; o que os tornam impróprios para comercialização. Acarretando, com isso, prejuízo financeiro para a empresa. No entanto, o dano não é só monetário e restrito ao negócio. Bem como, ligado apenas à perda de mercadoria. Suas consequências podem afetar a empresa, uma comunidade e até mesmo o planeta. No varejo, o combate ao desperdício passa, especialmente, por mudanças de hábitos.
Os gatilhos que levam ao desperdício em suas mais variadas formas, são muitos e, por vezes, imperceptíveis. “O desperdício de recursos básicos como energia e água se dá em função de sua utilização acima das necessidades específicas do negócio (ex.: mau uso, perdas desvio etc.). Além disso, não só impacta negativamente os resultados como também meio ambiente”, afirma o consultor em varejo Eduardo de Araújo Santos.
Embora presente em todas as atividades, é no comércio alimentício que o desperdício está mais presente. Contudo, seus danos ultrapassam as fronteiras da empresa. “As perdas são uma das principais questões que mais afetam os resultados de uma operação de supermercados. Sendo, muitas vezes, maior que o próprio lucro obtido pela empresa. No entanto, as perdas vão muito além dos prejuízos financeiros”, analisa Juedir Teixeira, consultor e membro do Conselho do Varejo – CDV da Associação Comercial de São Paulo.
Agravada pela pandemia e mais recentemente pela guerra entre Rússia e Ucrânia, a segurança alimentar é uma das principais questões da humanidade. Tendo no desperdício de alimentos um fator potencializador. “O desperdício de alimentos no varejo alimentar e no food service encarece e dificulta o acesso aos alimentos”, completa Araújo Santos, que também faz parte do CDV.
Apesar das boas práticas, combate ao desperdício nesse setor ainda não chegou a uma solução ideal, já que depende de outras variantes.
Combate ao desperdício: engajamento e mudanças de hábitos
O empresário Luiz Comazzetto, dono de um restaurante em São Paulo, busca cotidianamente reduzir as perdas geradas pelo seu negócio. “Implantamos controles diários, semanais e mensais. Eles são os parâmetros para identificarmos falhas nos processos e possíveis desperdícios”, conta.
Aliás, a realização de controles, manutenções preventivas e o engajamento dos colaboradores são ótimos aliados para a mudança de comportamentos e hábitos. E isso pode ser feito em relação ao uso consciente de água e energia, na destinação correta de resíduos, entre outros. Afinal, quem é que não gostaria de diminuir estes custos? “O desperdício de recursos impacta negativamente os resultados do negócio, a relação com os clientes e o meio ambiente”, conclui Araújo Santos.
Contudo, a conscientização e a mudança de comportamento dos funcionários são fundamentais para o resultado. Afinal, são eles que estão na operação o tempo todo e muitos dos controles estão ligados aos seus hábitos. São eles que também vão reportar, por exemplo, que a torneira do banheiro está pingando. Contudo, eles precisam ter consciência de que aquele pingo d’água pode, inclusive, afetar a saúde da empresa.
Então, promova cursos de conscientização e concursos internos de boas práticas para combate ao desperdício. Bem como, programas de premiação atrelados, por exemplo, a diminuição de custos de energia e água. Isso fará bem para a empresa e para a vida financeira de cada um deles. Conscientes, levarão essas boas práticas para suas casas. Enfim, todos ganham.
Comece pelo básico, nas atitudes do dia a dia
Veja algumas dicas de por onde começar, com atitudes simples, porém eficazes, sua jornada de combate ao desperdício. Vamos falar de dois dos principais recursos: energia e água.
Energia elétrica. Muitas vezes imperceptível, o desperdício de energia elétrica pode aumentar os custos chamados fixos de uma empresa. Procure usar lâmpadas de LED, que são mais econômicas. Além disso, lembre-se que cores de paredes mais claras diminuem a carga necessária de iluminação artificial. Outra coisa importante, evite deixar luzes acessas em ambientes que não estão sendo usados. Ou seja, acabou a reunião, apague as luzes da sala, bem como desligue todos os aparelhos eletrônicos. Inclusive do modo stand-by. Do mesmo modo, computadores não precisam ficar ligados na hora do almoço.
Lembre-se que o frio em excesso pode causar desconforto ao cliente. Repense o uso de aparelhos de ar-condicionado, que devem passar por manutenções periódicas para manter eficácia. Faça revisões preventivas regulares das instalações elétricas para detectar “fugas” de energia. Ao fim do expediente, mantenha ligados apenas luzes e equipamentos estritamente necessários.
Água. O recurso mais precioso e de grande impacto para o meio ambiente e para os negócios. Afinal, sem água não há energia, nem insumo para a produção de produtos, bens e serviços. Aqui também ocorrem as tais perdas “invisíveis”. Ou seja, pingo em pingo se perde uma caixa d’água.
Aqui também vale a máxima, manutenção preventiva não é custo; é investimento. Pequenos vazamentos, muitas vezes só são percebidos depois de muito desperdício. É aquele fio de água que fica escorrendo pelo vaso sanitário e ninguém se dá conta. Ou mesmo pelo sifão embaixo de uma pia. Afinal, quem no dia a dia, sem olhos treinados, vai perceber? Procure usar equipamentos que controlam melhor a vazão de água. Eles vão de vasos sanitários a torneiras inteligentes.
Planejamento
O combate ao desperdício pode acarretar alguma necessidade de investimento. Porém, o custo-benefício vale a pena. Faça um planejamento das obras necessária e dos equipamentos a serem substituídos por outros de melhor eficácia.
Veja onde está seu maior gargalo, se na conta de luz ou de água, por exemplo. A partir daí, vá fazendo as melhorias mais urgentes e impactantes. Com o básico em dia, é hora de partir para o próximo combate. O desperdício de recursos pode estar em qualquer área. Inclusive, na gestão de pessoas. Pense nisso!