Com a concorrência acirrada e o avanço do comércio on-line em todos os setores, supermercados começaram a apostar em novas experiências de compra na loja física para fidelizar clientes.
Com a primeira loja inaugurada em 1973, em Campinas, a rede paulista Enxuto tem se inspirado em cases de inovação mundo afora para se destacar no interior paulista. Em um processo de reinvenção desde 2016, a varejista é precursora na instalação de lojas de conveniência na região, pelo uso de robôs autônomos de entrega e pela adoção de carrinhos inteligentes, que contabilizam e finalizam as compras sozinhos.
“O que a minha rede oferece, cliente nenhum encontra na Amazon. O cliente tem que encontrar no meu mercado o que ele não vê em lugar nenhum”, diz Bruno Bragancini, diretor-presidente da rede Enxuto.
Na opinião dele, tudo começa pela seleção de produtos. Entre marcas mais famosas e comuns, outras um tanto diferenciadas, importadas e mais saudáveis, Bragancini quer também destaque para seus produtos de marca própria.
Pegando carona no crescimento desse nicho, a linha Enxuto Origem conta com 37 produtos, como tapioca, aveia, biscoito de polvilho, pão de alho, café, sucos e itens de casa.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Horus, empresa de inteligência que monitora mais de 35 milhões de notas ficais, o interesse do consumidor pelas marcas próprias vem crescendo. O tíquete médio de marcas próprias de redes de supermercados foi 23% maior em relação às tradicionais e a média de itens 18% maior, no último ano.
Um dos principais atrativos das marcas próprias em relação às tradicionais é o preço competitivo. O material mostra que o preço do molho de tomate de marca própria, por exemplo, fica em média 38% mais baixo do que de marcas tradicionais.
Outra mudança recente do grupo foi o investimento em parcerias locais para reduzir o impacto logístico, além de fortalecer os fornecedores da região e ter sempre produto fresco.
Veia tecnológica
Utilizando conceitos dos carros autônomos, a rede apostou recentemente em algumas unidades de carrinhos inteligentes equipados com tela touch screen, leitor de código de barras e máquina de cartão, permitindo ao consumidor fazer todo o processo de checkout e pagamento no próprio carrinho.
São cinco câmeras instaladas e uma balança móvel – ferramentas que têm papel fundamental no monitoramento dos produtos que são colocados e retirados de dentro do carrinho, além de auxiliar na segurança e contribuir com a prevenção de perdas.
Disponíveis em uma das lojas de Campinas, os oito carrinhos equivalem a 2% da frota disponível para os consumidores. O objetivo é subir a porcentagem para 10% da frota nas lojas até o final do ano. O custo para produção de cada unidade é de R$ 120 mil.
Também em fase de testes, um carrinho robô funciona como uma espécie de drone terrestre de uma das lojas de conveniência, em Paulínia, e é quem realiza as entregas dentro de um condomínio de 700 casas. Com capacidade para carregar até 35 quilos, o carrinho circula pelo condomínio a uma velocidade de até seis quilômetros por hora e se guia por sensores que reconhecem o caminho e os endereços por meio de um mapeamento prévio.
O carrinho é monitorado em tempo real pela empresa MyView e os sensores são programados para parar o carrinho em caso de obstáculos, inclusive, aqueles com movimento, como animais, pessoas e carros, por exemplo.
A ferramenta tem como local de origem a loja Enxuto Drive, que fica dentro do próprio condomínio e que aceita pedidos por Whatsapp. Um funcionário da unidade é o responsável por separar, embalar e carregar o carrinho.
O cliente é avisado previamente sobre o tempo de chegada via WhatsApp e os produtos gelados e congelados serão acondicionados em pequenas caixas de isopor dentro do carrinho.
Inicialmente, a porta do carrinho pode ser aberta com uma chave que é encaminhada junto ao robô, mas a expectativa é que com a evolução do projeto, o cliente possa ter acesso à mercadoria por meio de uma senha que receberá no ato da compra.
Repaginada
Além de repensar o sortimento e investir em tecnologia, as lojas também mudaram visualmente. Ganharam novas cores – mais vivas e coloridas, que segundo o executivo, tornam a comunicação mais assertiva e facilitam a localização de produtos, ilhas ou promoções.
O hortifrúti, conhecido como Feirinha, passou a ser posicionado na porta de entrada da loja para reforçar ainda mais a mensagem de frescor, uma prioridade da marca.
Outra novidade é a criação de uma área chamada Gularejo. O novo espaço integra o serviço de rotisserie ao restaurante com produtos limpos, picados e prontos para o consumo. Nesse ambiente, há mesas e cadeiras, música ao vivo em horários programados, sushi e pizza de fermentação natural feitos na hora e chope e cervejas artesanais gelados servido para os clientes.
Nas palavras do CEO, a ideia é criar a sensação de estar em um mercadão e gerar um tom mais intimista e lúdico para os clientes na hora de realizar as compras.
Por essa razão, a padaria passou a ser chamada de Padoca, onde os produtos artesanais também ganharam o seu espaço. Tudo produzido pelo próprio supermercado a partir de novas receitas que passaram por um processo de adaptação e agora não utilizam mais ingredientes prontos. Por exemplo, os molhos que antes eram comprados da indústria, agora são produzidos a partir de ingredientes frescos.
Além do tradicional açougue, a área de carnes conta com um atendente no balcão de autosserviço, que dá sugestões aos clientes de como harmonizar cortes com diferentes pratos e bebidas.
Texto: Mariana Missiaggia
Publicado no Diário do Comércio 26/10/2022
IMAGEM: ACIC/Divulgação